segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Que venham os louros (ou não)

Lembram desse post meu aqui?

Pois é, hoje descobri que fizeram um trabalho a respeito e apresentaram no SEPESQ, lá da faculdade de Letras da UFBa. Não fui ao SEPESQ, até porque Letras não é minha área, mas como tenho uma matéria no prédio de Letras, fiquei sabendo disso hoje, durante a aula.

Claro que a primeira sensação foi de lisonja. Quer dizer, alguém liga o suficiente pro que eu escrevo pra fazer um trabalho falando sobre isso? Pirante.

Aí a minha colega que foi me passou a programação e eu vi o título. Era algo do tipo "Análise do ethos na visão da imagem corporal na revista Capricho", nessa linha daí. E eu pensei cá com meus botões "Se botaram 'na revista Capricho' no título, isso provavelmente não vai prestar".
(Porque é claro que todo mundo sabe que a Capricho é demonizada por segmentos e segmentos da sociedade, e já sofri represálias por escrever pra ela, sim senhor)

Então perguntei à já citada colega como tinha sido a apresentação; aparentemente, ela foi uma crítica ao meu discurso contraditório onde na verdade eu tento afirmar a minha auto-estima mas me sinto subjugada pela ditadura da magreza, tendo necessidade de me comparar às meninas magras e me censurar usando o termo "fofa" ao invés de "gorda".

Tá, né. Não sou estudante de Letras, então será que cabe a mim dizer que ela está errada ou não? A verdade é que eu nem lembrava direito desse texto; agora fui reler e vi que realmente incluí as meninas magras no texto - o fiz na época inclusive pensando na revista, porque é óbvio que existem meninas gordas E meninas magras que lêem Capricho, e aposto que boa parte de ambos os grupos TEM problemas com a sua autoimagem - mas também admiti me encanar com meu corpo de vez em quando. Ou seja, simplesmente quis expor a minha condição HUMANA, porque é impossível alguém estar 100% bem consigo mesma 100% do tempo.

Acho que eu teria sido contraditória se eu tivesse escrito que estou bem comigo mesma, que sempre foi assim, que sempre É assim e que "ah, meninas magras também têm problemas". Mas não. Se eu afirmo que todos têm problemas, o que eu quero dizer é que todos somos seres humanos - e, como seres humanos, todos teremos complicações com a nossa autoimagem em algum momento de nossas vidas.

Eu não falo em nome da Capricho. A própria autora do trabalho reconheceu isso. Nenhuma das meninas do TDB fala, e Deus sabe que eles também não mostram muita consideração por nós.
Então acredito que só o fato de meu texto, que ainda que "aparentemente" (ou pelo menos é isso que o tal trabalho dá a entender), tenta dizer que você não precisa ser uma cover da Twiggy pra ser feliz foi publicado em uma revista que tem a fama de só estampar modelos branquinhas, loirinhas e, principalmente, magrinhas em suas páginas, e que alcançou milhares de meninas que podem (ou não, quem sabe) ter se visto naquilo e pelo menos parado pra pensar a respeito já é uma glória pra mim.

Como eu disse no começo, saber que alguém se dá ao trabalho de analisar o que eu escrevo e apresentar os benditos resultados, em um auditório cheio de gente, a respeito disso também é uma glória (ainda que a pessoa não tenha sequer se dado ao trabalho de me procurar pra conversar comigo a respeito, e olha só que ironia, eu estou na mesma faculdade que ela). Não posso afirmar com certeza como foi a apresentação e posso estar sendo super tendenciosa aqui, já que não a assisti e estou replicando com base em uma descrição fornecida por terceiros. Mas acho que tenho direito de retratação, nem que seja no meu espaço, pra deixar bem clara a mensagem que eu queria passar em relação a um assunto tão importante.

Eu não acredito na objetização da mulher como condição definitiva do sexo feminino na sociedade. Eu acredito sim que é possível ser feliz com um corpo fora dos padrões. Tem momentos em que eu estou feliz com meu corpo, tem momentos que não. Mas será que isso é tão errado assim?
Nós vivemos em uma sociedade que nos impele a seguir certos padrões, e isso magoa. Mas momentos de fraqueza são tão graves a ponto de levar a crer que qualquer tentativa de auto-afirmação é na verdade uma "cobertura" pra uma baixa autoestima implícita? Não podemos tentar fazer diferente, tentar mudar, ainda que um pouquinho só, essa realidade cruel que a mídia e oresto da sociedade nos impõem?

Quem está realmente reafirmando o culto à magreza aqui?

Sem mais.

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8 Comentários:

Às 19 de outubro de 2009 às 13:29 , Blogger Robbie Jacks disse...

Ah, essas estudantes de Letras... mas, como eu já te "tuitei", é muito fácil fingir que não é contigo quando o negócio é aparência. Todos nós vivemos sob a ditadura da magreza, e eu não entendo esse mundo que critica tanto essa mesma ditadura mas, quando surge alguém feliz com um corpo mais cheio, também critica essa pessoa. Muito confuso...

Beijooo!

http://betajackson.blogspot.com

 
Às 23 de outubro de 2009 às 03:33 , Anonymous Anônimo disse...

ah, não liga, tem gente que faz Letras que é super bitolado! não pode ser assim! eu adorei seu texto!!

 
Às 23 de outubro de 2009 às 10:06 , Blogger Michelle Louzeiro Nazar disse...

Sabe..no fundo é até legal..seu mérito está em o povo polemizar sobre um texto seu..o resto que se dane, pense assim! Parabéns pelo SEUS textos e SEUS trabalhos, viu? Bjks ;)

 
Às 25 de outubro de 2009 às 07:46 , Blogger Nicole Dias disse...

mesmo eles sendo muito críticos e tal, deve ter sido o máximo ser a 'analisada' em um trabalho de pesquisa, hein? aiheaoiheoia

 
Às 25 de outubro de 2009 às 14:43 , Blogger Vitóriaㅤ disse...

Convite!
Visite (e siga)o mais novo blog, só para garotas, com utdo o que você precisa saber, desde a vida dos famosos aré como se divertir:
http://keepoutboy.blogspot.com/
Beijos...

 
Às 25 de outubro de 2009 às 16:42 , Blogger S. B. disse...

O problema de alguns estudantes de Letras é pressupor que possuem subsídios teóricos para 'analisar terapeuticamente' os estudantes de Psicologia. ;D

 
Às 18 de novembro de 2009 às 10:26 , Blogger nós disse...

Bom, por onde começo?
Gabriela, lembra da tal estudante de letras que apresentou o trabalho de pesquisa no SEPESQ? Pois é, sou eu!!!
Primeiro, fiquei muito surpresa em, por acaso, encontrar o seu blog, saber que você é de Salvador, minha colega de faculdade, e ter comentado sobre a apresentação do trabalho. Que mundo pequeno, não?
De ante mão, preciso deixar claro que em nenhum momento antes da pesquisa tive acesso ao seu blog e que, na perspectiva teórica com a qual trabalho, VC enquanto pessoa (sua identidade) não se adéqua a análise.
Então, preciso esclarecer algumas coisas:
Estou concluindo o curso de letras, sou pesquisadora sobre o discurso na perspectiva da Análise do Discurso francesa e trabalho com a revista Capricho a quase dois anos, objetivando identificar, a grosso modo, as imagens das adolescentes construídas na enunciação vinculada pela revista na seção Tudo de Blog.
Dessa maneira, busco identificar os estereótipos que circulam acerca da imagem feminina no discurso da garota publicado na revista, para tanto utilizo, alem da análise do discurso francesa, questões acerca das relações de gênero social (homem-mulher).
Por acaso, o seu texto foi selecionado para análise, visto que trata de questões sobre a beleza feminina e, em nenhum momento, a critiquei, de maneira pejorativa, até mesmo, porque não é a sua opinião o foco da análise, mas os efeitos de sentido que o discurso ativa no momento que é enunciado.
Inclusive, esse texto está sendo utilizado como corpus para a análise na minha monografia, caso queira saber maiores informações sobre a pesquisa e sobre a análise completa realizada, você pode me escrever, já que eu não encontrei seu e-mail.


Att.: Luana

 
Às 18 de novembro de 2009 às 11:59 , Blogger Dialogo das letras disse...

Ola gabriela:

Permita-me fazer um comentário sobre seu post. Vc criticou algo que não assitiu e isso é meio injusto, até porque estamos tratando de análise do discurso,que pretende estudar não o que vc sente enquanto pessoa real, mas os sentidos que seu discurso pode gerar, coisas que são bem diferentes, entende?
Em outras palavas, o estudo não é se vc '
e feliz ou não com seu corpo, mas mostra que seu discurso pode trazer à tona significações que não estão nele explícitas, mas que mobilizam discursos que estão guardados na memória sobre a magreza, a ditadura da beleza e o fato de ser cheinha numa sociedade em que o símbolo da beleza é a magreza.
Antes de criticar e crucificaqr a utora do trabalho,acho que todos aqui deveriam saber que se trata de um trabalho no campo do discurso que visa analisar os enunciadores e'não os sujietos reais. Em suma, a Luana não falou da Gabriela, mas falou da enunciadora que escreveu para a revista capricho e que significa de diversas formas para diversos enunciadores.

Espero que tenha ficado clara essa questão.

abraços

Palmira

 

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